“O mercado de moda uruguaio tem um fator de singularidade incrível”

A Uruguay XXI realizou uma nova rodada de negócios do setor de moda que reuniu marcas locais com compradores internacionais e permitiu aprofundar o vínculo entre design, produção e mercados globais
Data de publicação: 16/12/2025
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Durante três dias de dezembro, a Uruguay XXI voltou a construir pontes entre a indústria local de moda e compradores internacionais, no âmbito de sua estratégia de internacionalização. Do Canadá, Espanha e Itália vieram representantes de lojas multimarcas, varejistas e plataformas digitais. Ao todo, 37 empresas uruguaias participaram da rodada de negócios, que incluiu 114 reuniões coordenadas. Noël e Marie Teillard, compradores da La Maison Simons; Eva Folch, fundadora da Folklorious; Ginevra Gozzoli, CEO da Bernardelli Stores; Francesca Molteni, proprietária da Tessabit; e Guillermo García, representante da plataforma The Folklore, integraram uma agenda que combinou reuniões individuais, um debate aberto ao setor e uma imersão profunda na cadeia de valor da lã, uma das fibras identitárias do país.

Conheça aqui as marcas uruguaias que participaram

A primeira impressão foi compartilhada. “Não imaginava que o mercado fosse tão maduro, achava que as marcas eram muito menores e mais locais”, reconheceu Noël Teillard, que admitiu ter chegado ao Uruguai com a expectativa de encontrar um mercado emergente. No entanto, a visita às coleções e os encontros com designers mudaram rapidamente essa percepção. “A produção de lã, desde os criadores até o produto final, é uma das especificidades do Uruguai”, destacou, ao apontar que o material representa uma vantagem clara em relação às propostas baseadas em fibras sintéticas.

Essa surpresa se repetiu em outras vozes. Eva Folch explicou que decidiu participar atraída pela possibilidade de conhecer marcas de um país que não estava em seu radar. A experiência, segundo ela, superou amplamente as expectativas. “Achei um lugar com muita criatividade, com muito mais indústria do que eu esperava”, afirmou, destacando o perfil das marcas locais: “vi marcas muito focadas na sustentabilidade, com muito uso de lã, tecidos naturais, muita malharia e muitas peças feitas à mão”. No encerramento da missão, foi enfática: “Eu recomendaria muito aos meus colegas que viessem conhecer o que este país tem a oferecer” e adiantou que, após a experiência, “adoraria trabalhar com algumas das marcas que descobri aqui”.

Montevidéu foi o ponto de partida, mas o percurso se estendeu para o interior do país. O Wool Tour, organizado em conjunto com o Secretariado Uruguaio da Lã, tornou-se um dos momentos centrais da missão. Para Francesca Molteni, a visita foi fundamental para compreender o valor por trás do produto final. “O wool tour foi muito interessante porque você realmente entende como a lã é produzida, como funciona o processo e a sustentabilidade em relação à água e aos animais”, explicou.

Essa experiência foi compartilhada por Ginevra Gozzoli, que destacou o contato direto com a cadeia produtiva. “O mais valioso para mim foi tocar e ver com meus próprios olhos todo o processo, não apenas o material final, mas também as pessoas e as famílias que trabalham por trás”, afirmou. Na sua avaliação, um dos principais diferenciais do design local é a rastreabilidade completa. “Tudo é feito no Uruguai: o designer é daqui, o tecido é daqui e o material também”, sublinhou. A isso se soma, disse ela, uma proposta criativa consistente: “os designs são muito bem estudados, nota-se pesquisa e conhecimento do mercado”.

Dos Estados Unidos, Guillermo García trouxe uma perspectiva complementar. Para a The Folklore, marketplace que conecta marcas independentes a compradores internacionais, o Uruguai representa um mercado com um diferencial claro. “O mercado de moda uruguaio tem um fator de singularidade incrível”, afirmou. Após sua primeira visita ao país, destacou também o contexto geral: “O Uruguai é um país organizado, seguro, com um potencial de negócios incrível”, disse, reforçando ainda o valor estratégico da lã local como insumo de qualidade e com credenciais de sustentabilidade.

De acordo com a especialista do setor de Moda da Uruguay XXI, Elisa Schroeder, o intercâmbio direto entre marcas e compradores é um dos objetivos centrais dessas missões desde que a agência começou a promovê-las, em 2015. “Trata-se de mostrar, mas também de ouvir, de gerar vínculos que transcendam as rodadas de negócios e permitam às marcas ajustar, melhorar e pensar estrategicamente sua expansão”, explicou.

No encerramento da missão, diversos compradores confirmaram que avançarão em seleções concretas, apresentações internas e possíveis acordos comerciais. “É por isso que estamos aqui”, resumiu Teillard.

Em um contexto em que a moda busca novas narrativas, o Uruguai se apresentou como um território fértil, não apenas pelo que produz, mas também pela forma como produz. As rodadas de negócios voltaram a posicionar o país como uma origem relevante para o design e a produção com valor agregado, a partir de uma experiência que permitiu aos compradores conhecer de perto a estrutura produtiva local, avaliar o potencial das marcas e abrir novas instâncias de diálogo comercial.

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