O talento uruguaio ganha destaque no Uruguay Global Services Day

O evento reuniu empresas, autoridades e referências do setor para analisar tendências, desafios e oportunidades de um setor que impulsiona o emprego, a inovação e as exportações
Data de publicação: 26/11/2025
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A terceira edição do Uruguay Global Services Day voltou a evidenciar a coesão e a maturidade de um setor que se tornou um dos pilares do desenvolvimento econômico do país. Organizado pela Uruguay XXI, o evento reuniu representantes de empresas multinacionais, zonas francas, academia e autoridades para traçar um mapa atualizado do setor e projetar seus desafios futuros.

A diretora executiva da Uruguay XXI, Mariana Ferreira, abriu o evento e destacou a amplitude e diversidade dos atores convocados. Ela ressaltou que o evento “reúne empresas internacionais que escolheram o Uruguai como hub, atores do ecossistema, academia, zonas francas e setor público”, o que, segundo ela, “enriquece esse tipo de atividade”. Ferreira destacou que o encontro busca visibilizar a dimensão estratégica dos serviços corporativos. “Há 15 anos publicamos um relatório que mostra a importância econômica do setor. Hoje queremos reforçar o Uruguai como fornecedor de serviços corporativos, compartilhar tendências e revisar oportunidades de melhoria”, afirmou.

O subsecretário do Ministério da Economia e Finanças, Martín Vallcorba, definiu os serviços globais como “um setor que se consolidou e se fortalece como pilar do desenvolvimento econômico do país”. Ele destacou sua contribuição para o emprego qualificado, a diversificação das exportações e a inserção internacional.

Vallcorba ressaltou que, em um mundo marcado por tensões geopolíticas, o Uruguai continua oferecendo “um atributo cada vez mais escasso: previsibilidade”. Ele também revisou as reformas em andamento: desburocratização e digitalização do Estado, modernização de marcos regulatórios, fortalecimento de incentivos ao investimento e melhoria da infraestrutura digital. O talento, afirmou, é o maior desafio estratégico do setor, destacando iniciativas como o relançamento do programa Finishing Schools e o de atração de talentos qualificados.

Um setor que impulsiona o emprego, as exportações e a sofisticação

O gerente de Investimentos e Aftercare da Uruguay XXI, Alejandro Ferrari, traçou um panorama detalhado do ecossistema, destacando que o país combina empresas estrangeiras, empresas locais exportadoras, zonas francas, fornecedores especializados, centros de formação e um conjunto de instituições públicas que acompanham o desenvolvimento do setor. Ele destacou que o Uruguai, juntamente com a Costa Rica, são os países mais especializados da região na exportação de serviços e que o país se tornou um destino importante para operações de alto valor, com vantagens como o fuso horário, a qualidade dos talentos e a estabilidade institucional.

O gerente detalhou que a Uruguay XXI identificou 660 empresas com mais de cinco funcionários que integram o segmento de serviços globais e trading, um universo que continua em expansão. Essas empresas geram 34.000 postos de trabalho, dos quais 35% são desenvolvidos dentro de zonas francas, o que mostra a importância desses regimes como plataforma de serviços.

“Estamos diante de um setor que gera empregos inclusivos e de qualidade, muitas vezes o primeiro emprego para os jovens, mas também com possibilidades de carreira para níveis muito altos de sofisticação”, disse ele. Ele explicou que a presença de multinacionais traz consigo novas metodologias, ferramentas e padrões de trabalho, “que se espalham e permeiam toda a economia, fortalecendo o ecossistema”.

Ferrari destacou que as exportações de serviços já atingem US$ 4,1 bilhões, enquanto o trading soma outros US$ 2,3 bilhões. Juntos, os serviços globais representam cerca de 30% das exportações totais do país, número que ele considerou “um sintoma inequívoco da crescente sofisticação da economia uruguaia”.

Ele destacou ainda que os Estados Unidos são a principal origem das empresas instaladas no país, seguidos pelo Canadá, Argentina, vários países da Europa e Brasil. “A diversificação de origens e funções operacionais confirma que o Uruguai se consolidou como uma plataforma regional para operações corporativas de alto valor”, afirmou.

O palestrante explicou que, na prática, muitos investimentos chegam de forma “sequencial”: empresas que chegam com uma equipe pequena ou uma função limitada e, depois, expandem suas operações para novas áreas, como finanças, compras, recursos humanos, análise de dados, tecnologia ou conformidade regulatória. “Esse padrão demonstra confiança no país e no talento, e é consistente com o que observamos há mais de uma década”, indicou.

Multinacionais destacam o talento uruguaio

O painel empresarial composto por Erika Hannibal (diretora do Grupo Regulador Sênior da Roche), Patricia Nunes (diretora geral da BASF Services Americas Hub Montevideo) e Luis Pedro Sapelli (diretor da Global Services TCS Latam) analisou as oportunidades e os desafios que o setor enfrenta em um contexto global altamente competitivo.

Os três executivos destacaram a estabilidade econômica, política e social do Uruguai como um fator determinante para desenvolver operações corporativas de longo prazo e sustentar serviços que atendem a múltiplos mercados. Eles concordaram que esse ambiente previsível permitiu a instalação de centros de serviços com padrões crescentes de complexidade e especialização.

O talento local foi apontado como o diferencial mais relevante. Eles destacaram a combinação de habilidades interpessoais, rápida capacidade de aprendizagem e compreensão de cenários complexos que caracterizam os profissionais uruguaios.

A BASF, a Roche e a TCS concordaram que essa qualidade humana e técnica possibilitou a construção de plataformas capazes de operar funções financeiras, regulatórias, tecnológicas, de comunicação, cadeia de suprimentos e assuntos especializados. Além disso, destacaram que aqueles que trabalham com equipes uruguaias costumam preferi-las por sua empatia, adaptabilidade e foco na qualidade, atributos que contribuem para o posicionamento internacional do país como fornecedor confiável de serviços globais.

O painel expressou que o setor de serviços globais está passando por um momento de redefinição, em que a pressão competitiva internacional, a automação e o aumento dos custos obrigam o Uruguai a aprofundar sua diferenciação por talento, qualidade e serviços de maior valor agregado. As empresas reafirmaram sua aposta no país e alertaram, ao mesmo tempo, que a sustentabilidade do crescimento requer o reforço da competitividade em relação a outros mercados. Como Nunes apontou durante o intercâmbio, trata-se de uma indústria na qual “é fácil entrar, fácil crescer, mas também é fácil sair”, o que torna imprescindível consolidar as condições para reter investimentos e continuar ampliando oportunidades a partir do Uruguai.

Casos de sucesso: empresas que consolidam a plataforma Uruguai

O painel de casos de sucesso foi moderado pela especialista da Uruguay XXI em Serviços Globais e Centros de Distribuição Regional, Fabiana Valiño, e foi composto por empresas sugeridas pelas zonas francas Aguada Park, Parque de las Ciencias, WTC Free Zone e Zonamerica. O segmento ofereceu um panorama concreto do valor do país.

A diretora da Asignet, María José Vázquez, afirmou: “Escolhemos o Uruguai como país e adoramos estar aqui. O talento é incomparável e o fuso horário nos favorece enormemente. Nossos clientes nos Estados Unidos adoram trabalhar com o Uruguai”.

Por sua vez, Enrique Ermoglio, sócio diretor da Deloitte, explicou que a empresa opera em três escritórios em Montevidéu, cada um com um objetivo alinhado à sua estratégia global, e destacou a importância de contar com instalações tecnológicas atraentes para as equipes.

O gerente de RH da Trafigura, Javier Carrau, lembrou que a empresa escolheu o Uruguai em vez do Panamá e da Costa Rica pelo talento, o nível de inglês e a estabilidade institucional. “Este é o nosso segundo maior escritório”, confirmou.

Por fim, Sergio Savoi, CEO da NutriPharma Solutions, destacou “a atitude, a educação e os valores” do talento uruguaio, fundamentais para competir internacionalmente.

Inteligência artificial e futuro: o Uruguai compete pela qualidade

O encerramento ficou a cargo de Glenn Hopper, especialista em transformação digital, que analisou o papel da inteligência artificial no futuro dos serviços. Ele afirmou que Montevidéu “ganhou reconhecimento por seu excepcional trabalho de serviço” e sustentou que, enquanto muitos países competem por custos, “o Uruguai compete pela qualidade, e a IA se alinha perfeitamente com esse perfil”. Ele explicou que essas tecnologias aceleram as tarefas de análise, melhoram a consistência e liberam os profissionais para aplicar seu critério onde tem maior impacto.


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