Uruguai reforça sua projeção internacional com o acordo EFTA-Mercosul

O novo tratado abre oportunidades para atrair investimentos de alto valor e potencializar as exportações para mercados exigentes e sustentáveis, destacou a diretora executiva da Uruguay XXI, Mariana Ferreira
Data de publicação: 22/10/2025
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O recente debate sobre o acordo EFTA -Mercosul, realizado no LATU e organizado pela Câmara de Comércio Uruguai-Países Nórdicos em conjunto com a Câmara de Comércio Suíço-Uruguaia, reuniu autoridades, empresários e representantes diplomáticos para analisar as oportunidades que se abrem com este novo marco comercial entre o Mercosul e os países da Associação Europeia de Livre Comércio (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein).

A atividade contou com a participação do embaixador da Suíça no Uruguai, Álvaro Borghi, do embaixador da Noruega na Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai, Halvor Saetre, da presidente da União dos Exportadores, Carmen Porteiro, e da diretora executiva da Uruguay XXI, Mariana Ferreira, além do diretor-geral adjunto de Integração e Mercosul, Koichi Tanaka, que atuou como palestrante principal.

Durante sua apresentação, Koichi Tanaka destacou que o acordo “aumenta a previsibilidade e as certezas nas relações econômicas entre os dois blocos”, ao incorporar capítulos sobre bens, serviços, investimentos e desenvolvimento sustentável. “A EFTA é um parceiro confiável e exigente, que valoriza a produção com baixo impacto ambiental e de forma sustentável”, afirmou, destacando que o novo marco “consolida o Uruguai como um ator que promove regras claras e uma inserção internacional baseada na sustentabilidade”.

Um acordo estratégico para um país aberto

“O Uruguai é um país pequeno e aberto, por isso qualquer acordo que promova investimentos e exportações de bens e serviços é muito bem-vindo”, disse Mariana Ferreira, destacando o caráter estratégico do tratado com a EFTA.

A diretora da Uruguay XXI ressaltou que o acordo “é de primeiro nível” e que, além de seu alcance comercial, reforça a inserção internacional do Uruguai em um contexto global de incerteza.

Ferreira destacou que os países da EFTA — que somam cerca de 14 milhões de habitantes e um PIB total de US$ 1,5 trilhão — representam economias de alto valor agregado, com padrões exigentes e sustentabilidade como eixo. “Isso também marca o tipo de oportunidades que devemos aproveitar”, afirmou.

Os embaixadores Halvor Saetre (Noruega) e Álvaro Borghi (Suíça) concordaram que o acordo tem um valor simbólico em tempos de tensões globais. “É um sinal de que escolhemos o caminho do livre comércio baseado em regras e confiança mútua”, disse Saetre, enquanto Borghi destacou que a assinatura “fortalece a previsibilidade e a diversificação comercial para ambas as regiões”.

Empresas de alto valor e clima favorável

De acordo com os registros da Uruguay XXI, no Uruguai operam cerca de 45 empresas provenientes de países da EFTA, das quais 35 são suíças, que geram 2.500 empregos diretos e exportações de cerca de 30 milhões de dólares anuais.

“São empresas dos setores financeiro, farmacêutico, alimentício e energético, com alto valor agregado. Elas refletem a qualidade e a especialização dos países da EFTA”, explicou Ferreira.

A diretora executiva destacou também que a Suíça figura como o décimo investidor no Uruguai, o que evidencia o interesse sustentado pelo país. “É um lugar importante para uma economia do tamanho da Suíça e mostra que o Uruguai oferece confiança e estabilidade”, acrescentou.

De acordo com uma pesquisa recente da Uruguay XXI, 73% das empresas estrangeiras dos países da EFTA instaladas no país se declaram satisfeitas com o clima de investimentos. “É um nível alto, considerando que são países com padrões exigentes”, observou Ferreira. “Isso nos deixa contentes, mas não satisfeitos: queremos continuar atraindo mais investimentos de qualidade”, acrescentou.

A diretora também enfatizou o potencial do acordo para atrair investimentos em setores de alta tecnologia e sustentabilidade, como energia, ciências da vida, biotecnologia e serviços globais.

“A Suíça é o polo farmacêutico mundial e o Uruguai está trabalhando para se posicionar como um centro regional de pesquisa e desenvolvimento em biotecnologia e ciências da vida. Há muito potencial para trazer conhecimento e investimento nessas áreas”, afirmou.

Ela também destacou o interesse de empresas norueguesas e suíças nos setores de energia renovável e serviços financeiros, onde o Uruguai já conta com talentos qualificados e marcos regulatórios sólidos.

“Qualquer investimento de grande porte em energia pode ter um impacto muito relevante em nossas estatísticas de investimento estrangeiro direto”, observou.

Sustentabilidade como vantagem competitiva

O foco na sustentabilidade foi outro eixo central do debate. Tanto Ferreira quanto a presidente da União dos Exportadores, Carmen Porteiro, concordaram que o Uruguai tem vantagens comparativas claras nessa área.

“O Uruguai é o único país do Mercosul classificado pela União Europeia como de baixo risco na normativa EUDR. Isso diz muito sobre o posicionamento e a seriedade do país”, destacou Porteiro.

Ela acrescentou que a sustentabilidade também é “uma carta de apresentação” para atrair investimentos de países como Noruega e Suíça: “São parceiros que valorizam a rastreabilidade, a transparência e a estabilidade institucional. O Uruguai pode oferecer tudo isso”.

Porteiro complementou que os acordos comerciais só geram resultados se se traduzirem em competitividade real. “Um tratado abre portas, mas os negócios se concretizam com competitividade”, afirmou. “As empresas uruguaias precisam aproveitar os instrumentos do acordo e manter padrões sustentáveis de alto nível”.

Em um dos momentos comemorativos do encontro, a presidente da União dos Exportadores destacou: “queremos que o Uruguai seja o primeiro do Mercosul a ratificar este acordo e que as cotas sejam jogadas a favor do nosso país”.

Um impulso para a promoção internacional

A diretora executiva da Uruguai XXI garantiu que o órgão já está trabalhando com as câmaras binacionais, o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Economia e Finanças para “capitalizar o acordo com uma estratégia mais ativa de promoção internacional”.

“Esses acordos são úteis quando se traduzem em resultados concretos: investimentos, empregos e novas exportações”, disse Ferreira.


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