O ABC do processo de investimento

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Não existe projeto que funcione sem capital. Portanto, se não temos o capital necessário, precisamos buscar alguém que o tenha. Em primeiro lugar, é importante ter claro que o investidor já sabe que nem todos os investimentos terão sucesso. Por isso, a primeira decisão que qualquer empreendedor deve tomar é perder o medo de conversar com esse tipo de ator.

A primeira coisa que devemos fazer diante de um investidor é captar seu interesse. A apresentação é fundamental, assim como a participação e a proatividade. Enviar o projeto por e-mail não adianta. É necessário promover um encontro presencial e, claro, estar preparado para ele.

No contexto de busca por investimento, o networking é muito importante, pois todos trabalhamos em rede. Embora esse mundo tenha certo formalismo, também é preciso ser espontâneo. Nunca seja tímido, pois o investidor vai investir no empreendedor, não apenas no projeto. Já participei de projetos que fracassaram como produto, mas a equipe soube ajustar o produto ou o foco de mercado e conseguimos avançar.

Portanto, o primeiro elemento que atrai um investidor é a equipe, que deve ser escolhida com base em suas competências e capacidade de desenvolver o modelo de negócio e os processos necessários para sua implementação. Uma boa equipe pode ter sucesso com uma ideia mediana, enquanto uma equipe medíocre fracassará até mesmo com uma ideia brilhante.

Por que queremos incorporar um investidor na nossa empresa?

Porque ele aportará capital, mas também capacidade de decisão. O investidor não é um credor, é um sócio e, portanto, também é proprietário.

Existem diversos tipos de investidores, e sempre devemos nos perguntar o que mais esperamos além do dinheiro. Por exemplo: que tragam seu networking, expertise no setor, conselheiros, relações internacionais, sinergias com outras empresas, entre outros.

Cada investidor tem um perfil, definido pela disponibilidade de capital, tempo e experiência. Nenhum investe em tudo. Por isso, o segundo ponto mais importante é encontrar o match ideal. Cada projeto requer um perfil de investidor diferente, e é essencial entender que o investidor também busca retorno com valorização do capital investido.

No entanto, nunca devemos buscar um investidor que apenas coloque dinheiro. É preciso buscar sinergias.

Como encontrar o investidor certo?

É possível definir a faixa ou o perfil do investidor ao qual podemos apresentar nossa proposta:

  • Se tenho apenas uma ideia e preciso de até US$ 50.000 para criar a base inicial da empresa, o investidor ideal está entre as pessoas próximas, os conhecidos Founder, Family and Friends.

  • Se já tenho uma startup com produto definido, pronta para produzir e vender, e preciso entre US$ 50.000 e US$ 200.000, o projeto está pronto para ser apresentado a um business angel de primeira rodada.

  • Se a startup já tem produto no mercado, com vendas crescentes e potencial de expansão, e necessita entre US$ 250.000 e US$ 500.000, é atraente para um serial business angel, uma empresa de investimento ou um fundo pequeno.

  • Se a startup já é uma pequena ou média empresa (PME) com vendas consolidadas e possibilidade de escalar globalmente, e precisa entre US$ 500.000 e US$ 2.000.000, o projeto deve ser apresentado a um fundo de capital de risco, de preferência especializado no setor em que você atua.

É importante saber que os principais investidores de capital para projetos ou empresas em fase inicial são os business angels e os fundos de capital semente ou de crescimento.

Os business angels são difíceis de encontrar individualmente. O ideal é buscar redes organizadas e apresentar a proposta de investimento. No entanto, isso não impede a tentativa de encontrar investidores privados que invistam diretamente.

O aspecto geográfico da busca também é relevante. Investidores que aplicam até US$ 250.000 normalmente não investem em projetos localizados a mais de uma hora de viagem.

Como preparar a apresentação do projeto?

A apresentação ao investidor é crucial para gerar interesse no projeto. Devemos contar com diferentes formatos:

  • Resumo executivo: documento muito breve, objetivo, sem linguagem poética, com os elementos essenciais do projeto.

  • Apresentação em PowerPoint: para apresentar o projeto a um grupo de investidores. Deve conter muitas imagens e pouco texto, pois será usado para explicação presencial.

  • Resumo expandido: documento de três páginas com descrição mais detalhada do produto. É entregue aos investidores que já demonstraram interesse, com o objetivo de atrair ainda mais atenção.

  • Plano de negócios – Resumo executivo: entregue somente após assinatura de um acordo de confidencialidade (NDA).

  • Plano de negócios completo: entregue após a assinatura de um memorando de intenções e do NDA, e antes do início da due diligence (verificação formal do projeto).

É fundamental conhecer o perfil do investidor ao qual o projeto será apresentado, para alinhar a proposta aos seus interesses. Os documentos podem e devem ter enfoques distintos dependendo do tipo de investidor.

Como conduzir a negociação?

Uma vez que o interesse foi gerado, é preciso ser rápido e proativo na negociação. O processo de fechamento tem seu timing, e, depois que passa, é muito difícil reverter.

Nas reuniões após a apresentação inicial, o objetivo é que o investidor reforce sua percepção positiva sobre o projeto e queira continuar negociando. Para isso, é essencial estar muito bem preparado e documentado.

Tenha um plano de negócios pronto e projeções financeiras sólidas. Nunca compartilhe informações sensíveis sem um acordo de confidencialidade assinado—mas isso não deve ser um obstáculo para avançar nas negociações.

O processo de negociação termina com a due diligence, uma verificação detalhada de todas as informações fornecidas pelo empreendedor, que exige apoio de especialistas profissionais.

Uma vez alcançado o acordo, é necessário formalizar um documento extenso, que contemple todas as condições, especialmente:

  • as datas para aporte do capital

  • os percentuais societários de cada parte

  • os acordos de segurança e proteção para todos os sócios

  • o cenário de saída do investidor (desinvestimento)

Xavier Casares
Fundador da Tibidabo Ventures

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