Exportadores uruguaios criam oportunidades na rodada de alimentos da Uruguay XXI e da CIU

Mais de 70 empresas uruguaias realizaram mais de 300 reuniões com compradores da América Latina e dos Estados Unidos
Data de publicação: 11/08/2025
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De Carmelo para o mundo, de um superalimento de cânhamo ao primeiro atum enlatado made in Uruguai, os casos de sucesso e projeção se multiplicaram durante a rodada internacional de negócios organizada pela Uruguay XXI e pela Câmara de Indústrias do Uruguai (CIU). Com uma década de trajetória, esta rodada de negócios do setor alimentício se tornou uma das ferramentas mais eficazes para promover a internacionalização do ecossistema alimentar uruguaio.

Mais de 300 reuniões ocorreram entre 70 empresas nacionais e 13 compradores estratégicos provenientes de mercados-chave como Argentina, Brasil, Chile, México, Paraguai, Peru e Estados Unidos.

Exportar a partir da identidade

A rodada permitiu conhecer em primeira mão como as empresas uruguaias estão enfrentando o processo de exportação a partir de diferentes pontos de partida e abordagens.

Do coração vitivinícola do país, Sebastián Gonzatto, gerente de Exportação da Giménez Méndez, valorizou a possibilidade de centralizar reuniões com vários mercados em um mesmo espaço. “Para nós, é uma das melhores atividades de visita inversa. Muitas vezes é difícil conseguir uma agenda no exterior, mas aqui vêm vários países, várias origens. Parabenizo o trabalho de todos os organizadores do evento”, afirmou.

Gonzatto ressaltou que os negócios internacionais devem ser pensados a longo prazo. Sua experiência com o Peru é ilustrativa. “Tivemos uma reunião aqui outro ano e, a partir dessa reunião, junto com outras pessoas envolvidas, pudemos avançar para ser considerados fornecedores de uma empresa importante. Isso foi o pontapé inicial para isso”, disse.

Giménez Méndez é hoje a quarta vinícola exportadora do país e exporta principalmente para o Brasil, embora também trabalhe com o Peru, Paraguai e Argentina.

De Carmelo, Claudia Elizalde representou Narbona, uma marca consolidada no mercado interno que está dando passos firmes em sua internacionalização. “Para empresas que estamos no interior do país, esta rodada é a forma de acessar diferentes mercados em um ou dois dias. É muito interessante participar”, expressou.

Hoje, a Narbona exporta doces e vinhos para países como Argentina, Chile, Brasil, Peru, Guatemala e Estados Unidos. Segundo Elizalde, as rodadas têm sido determinantes. “Conseguimos novos clientes, reencontramos outros com os quais tínhamos vínculo virtual e agora os conhecemos pessoalmente. Isso também é muito valioso”, disse.

Um de seus produtos estrela é o doce de leite, mas o crescimento também vem do lado do vinho. Nesta edição, Narbona conseguiu avançar com novos interessados do Brasil e do Peru. “Atualmente, com o Peru, só trabalhávamos com doce de leite. Agora pude deixar amostras de vinho”, afirmou.

Sua participação e a de outros exportadores de produtos similares encontrou eco na percepção dos compradores. Por exemplo, Sonia Camacho, da Monalisa Internacional (Paraguai), destacou os vinhos, o doce de leite e o azeite de oliva do Uruguai, produtos de grande interesse para seu grupo; enquanto que, dos Estados Unidos, María Victoria Pozzoni acrescentou: “Há muito tempo que quero trabalhar com a Narbona, que é um doce de leite de prestígio”.

Aníbal Zeballos levou à rodada um caso inédito: UyTuna, a primeira empresa uruguaia que produz conservas de atum em nível industrial. “O Uruguai passou a ser um fabricante de conservas de atum. Não é normal. É liderado por outros países. É a primeira vez que há algo assim na indústria nacional”, comemorou.

Em plena fase de lançamento, a UyTuna concretizou no mesmo dia da rodada de negócios sua primeira exportação para a Argentina e prepara um envio para o Brasil. As reuniões da rodada, disse Zeballos, foram bem recebidas. “Todos ficam atraídos pelo produto, acham algo novo. Depois, o que importa é a relação preço-qualidade, mas isso faz parte do trabalho comercial”, avaliou.

Giovanna Guilhen, da DOMAZZI S.A. (Brasil), concordou com seu caráter diferenciado. “Encontrei atum em embalagens diferentes (...) com qualidade superior àquelas comparadas com a Europa”, opinou.

Do segmento de alimentos saudáveis, Rodrigo Gómez, da Goland, compartilhou outra experiência. “Estamos procurando compradores que queiram levar para seu país uma marca já consolidada, com uma linha de superalimentos derivados do cânhamo”, disse.

O produto estrela é um óleo prensado a frio com alto teor de ômega 3, antioxidantes e uma cor verde característica. Na rodada, Gómez foi bem recebido: “tive uma reunião com uma rede de supermercados gourmet do Paraguai. Eles ficaram encantados com o produto e acreditam que é possível importá-lo ainda este ano. Também conversamos com uma compradora de produtos latinos nos Estados Unidos que viu nele uma alternativa saudável e sustentável”. Entre esses potenciais parceiros, María Victoria Pozzoni (Estados Unidos) destacou: “Tive uma reunião com a marca Goland, que adorei, acho que pode haver um negócio aí”.

A Goland já está presente na Argentina e nos Estados Unidos, mas seu objetivo é ampliar sua presença na América Latina. “Não temos a oportunidade de viajar o tempo todo para eventos comerciais. Que eles sejam gerados aqui no Uruguai é espetacular”, elogiou.

No caso da Dos Orientales e da Mala Fama, seu diretor, Mauricio Sánchez, relatou que seus produtos, como pizza e cerveja, são elaborados com matérias-primas da mais alta qualidade e um exigente processo de desenvolvimento. “Por meio de tentativa e erro, fomos aprimorando cada detalhe até conseguir um produto que hoje se destaca internacionalmente”, contou.

Esta primeira participação na rodada deixou resultados promissores. “Os compradores mostraram muito interesse pela qualidade e pelo preço dos nossos produtos, que não encontravam em seus mercados locais. Chile, Peru, Brasil e Argentina mostraram-se especialmente interessados em nossas pizzas e derivados, enquanto Paraguai e México demonstraram grande interesse pela cerveja”, expôs.

A percepção dos visitantes coincidiu quanto a esse atrativo. Jesús Higueras, da SMU The Sucseed (Chile), destacou: “Encontrei produtos como pizza com massa fermentada... chama muito a atenção”; enquanto Giovanna Guilhen, do Brasil, reforçou: “Vi pizzas congeladas com qualidade superior às da Europa”.

Uma ponte estratégica para o mundo

A agenda das rodadas de negócios incluiu uma palestra técnica a cargo de Analía Bello, especialista da Uruguay XXI, que lembrou que 60% das exportações industriais do país são alimentos e bebidas, e que a proposta nacional se destaca pela rastreabilidade, qualidade certificada e sustentabilidade. “O Uruguai oferece alimentos naturais e seguros, com origem conhecida, práticas agrícolas sustentáveis e baixa pegada de carbono”, resumiu.

Além dos números, a rodada funcionou — como vem fazendo há anos — como uma ponte direta entre os produtores uruguaios e o mundo. Esta edição deixou à mostra os produtos exportáveis, bem como trajetórias e estratégias diversas que se entrelaçam em um mesmo objetivo: abrir mercados.


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