Cultura digital, as vantagens do Uruguai em tempos de COVID-19

A digitalização, o acesso a dispositivos e a conectividade permitem que muitos sectores de actividade realizem as suas tarefas à distância.
Data de publicação: 16/04/2020
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Através de uma série de políticas públicas que encontram sua bandeira no Plano Ceibal, programa que através da tecnologia revolucionou seu sistema educacional, o Uruguai criou uma cultura digital que, sem conhecê-la, o deixaria melhor posicionado diante do surto da COVID-19.

A ideia de que, perante uma situação que impede os alunos de frequentarem as aulas nos centros educativos, os cursos podem ter uma certa continuidade não é rara no Uruguai, onde o esforço para uma maior digitalização já está em curso há anos.

Por isso, como destacado num diálogo com a agência de notícias EFE, a especialista em Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) da agência para a promoção do investimento, exportação e imagem do país Uruguai XXI, Isabella Antonaccio, a chegada da pandemia da COVID-19 encontra o país bastante preparado.

Digitalização em tempos de distância social


Embora a perita tenha esclarecido que a preparação não era para circunstâncias como esta, reconheceu que muitas das políticas do país em matéria de tecnologia são oportunas, numa altura em que a comunicação e o trabalho à distância são a melhor opção.

"O facto de existir um elevado nível de digitalização, desde o acesso a dispositivos e computadores por parte de estudantes e professores até à conectividade em lares e empresas, significa que existem muitos sectores de actividade que podem continuar a desenvolver as suas tarefas", afirmou Antonaccio.

A peça chave é o investimento que o país fez em conectividade, que permitiu, após um investimento de 600 milhões de dólares em fibra óptica, que a Internet chegasse a 80% das casas com boa velocidade e a um preço acessível.

O especialista em TIC salientou igualmente que o Uruguai - que faz parte do D9, um grupo que reúne os principais países do mundo em matéria de governo digital - colocou a ênfase na redução do fosso digital na sua população.

Um dos protagonistas indiscutíveis deste processo é o Plano Ceibal, uma iniciativa criada em 2007 para apoiar os planos educativos do país com a tecnologia.

Devido ao seu carácter inovador, este plano é hoje um programa emblemático que mostra ao mundo as iniciativas de vanguarda para as quais o Uruguai se destaca.

Na sombra do Ceibal

Com o Plano Ceibal, o Uruguai foi o primeiro país a implementar o programa One Laptop Per Child, concebido pelo especialista em tecnologia e fundador do Media Lab do Massachusetts Institute of Technology (MIT), Nicholas Negroponte, juntamente com outros membros do MIT.

Este plano, para o qual foram dados dois milhões de computadores portáteis e comprimidos a crianças e adolescentes entre 2007 e 2018, tem, segundo a Directora de Educação do Plano Ceibal, Irene González, uma interessante história de experiências a serem postas em prática na pandemia.

"Partimos de uma situação favorável, sobretudo tendo em conta o que poderá acontecer noutros países da região nesta matéria, na implantação das infra-estruturas iniciais e no acesso universal aos dispositivos", afirmou Gonzalez.

Acrescentou que, tanto com o Plano Ceibal - com o nome da árvore ceibo, a flor nacional do Uruguai - como com o Plano Ibirapitá, que fornece comprimidos aos idosos com baixos rendimentos no país, há um capital de exploração acumulado nas tecnologias da educação que é vantajoso nestas circunstâncias.

Concretamente, González assinalou que quando foi decretada a suspensão das aulas, anunciada em 14 de Março pelas autoridades e depois prorrogada indefinidamente, o Plano Ceibal já dispunha de várias plataformas virtuais de aprendizagem.

A principal, escolhida para concentrar os encontros entre alunos e professores antes do COVID-19, é a plataforma "Crea", onde podem ser encontrados materiais de várias disciplinas e onde, segundo o gestor, foi registado um número recorde de utilizadores de cerca de 270.000 por dia com a pandemia.

Além disso, o Plan Ceibal possui duas plataformas virtuais para o estudo da matemática, tanto através de exercícios como de jogos, uma biblioteca com mais de 7.000 conteúdos e uma ferramenta piloto de vídeo-conferência online que está a ser utilizada por cerca de 200 professores e que se espera venha a ser implementada no futuro.

Neste sentido, González afirmou que uma das principais tarefas do plano no contexto actual é estar consciente das dúvidas e questões que os professores possam ter.

"Estamos a trabalhar arduamente em webinars e workshops virtuais porque a procura aumentou e acreditamos que neste momento é muito importante que os professores se sintam apoiados por nós, que estejamos perto deles para responder às suas perguntas", afirmou.

Por outro lado, Gonzalez disse que um grande desafio para o plano pandémico é enfrentar as desigualdades que tal situação gera, a fim de chegar mesmo àqueles agregados familiares que não dispõem de recursos suficientes.

"Há um desafio muito importante na forma de chegar a esses estudantes e procurar outras estratégias. Sabemos que as escolas estão a trabalhar arduamente e a colocar os recursos necessários para chegar a estas crianças", concluiu.


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